Em sua 6ª Edição, o Extremo Fashion, que acontece anualmente na cidade de João Pessoa, um evento dedicado à promover, valorizar e divulgar a Moda de Cunho Autoral Paraibana, onde tive o prazer de apresentar três trabalhos de minha autoria: da empresa de moda íntima, Laranja Mimo; o segundo o desfila da marca U.N.I.D.A.S, da artesã Teteu Carvalho; e o terceiro uma edição de peças elaboradas pelos artesãos paraibanos que participam do Programa de Artesanato Paraibano (PAP), o qual quando da minha passagem pelo programa, desenvolvi o projeto Moda PAP. O desfile Moda PAP envolvia várias tipologias de artesanato onde se criou um Mix de propostas em cada look apresentado.
Desfile Laranja Mimo |
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Desfile U.N.I.D.A.S |
Moda PAP |
Rede de dormir artesanal produzida na Paraíba ganha prêmio internacional
Na Economia Criativa, o Artesanato é um setor que contribui com a expressão e preservação cultural apresentando ao mercado valores estéticos e de identidade de um povo. Em São Bento, na Paraíba, a produção têxtil realizada na Santa Luzia Redes e Decoração em teares manuais e mecânicos -- com acabamentos artesanais -- trouxe a Armando Dantas, executivo da empresa, o prêmio "Reconhecimento de Excelência Artesanal do Cone Sul".
O prêmio foi dado pelo World Crafts Council -- Conselho Mundial de Artesanato -- com apoio, proteção e recomendação da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura - Unesco. Como organização internacional, a Unesco é referência pela visão global do papel sociocultural e econômico do artesanato na sociedade.
Os produtos artesanais selecionados respondem aos seguintes critérios e condições: o prêmio reconhece que um produto artesanal (ou linha de produtos) segue os critérios de qualidade técnica, inovação, vínculo cultural e produção com respeito ao meio ambiente. Outro critério é a possibilidade do produto ser comercializado internacionalmente.
Quem apresentou os produtos artesanais do Estado da Paraíba para a seleção foi Eduardo Barroso. Como consultor e coordenador do programa João Pessoa Cidade Criativa da prefeitura da cidade, ele esteve presente na Assembleia do Conselho Mundial de Artesanato, realizada no Uruguai, cuja programação previa a seleção dos produtos artesanais oriundos dos países do Cone Sul: Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile.
Sustentabilidade social, ambiental, econômica e cultural
Com foco na sustentabilidade, a rede de dormir premiada foi desenvolvida em algodão colorido orgânico da Paraíba. A pluma do algodão certificado já nasce com tons que vão do bege ao marrom, sem uso de aditivos ou corantes. O cultivo da matéria-prima é feito sem irrigação na região do semiárido em assentamento rural. Como não há tingimentos, o impacto na economia de água é de 87,5% na cadeia produtiva, de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias - Embrapa. O contrato é de compra garantida para que os agricultores e suas famílias viabilizem a permanência no campo, mantendo suas tradições e vivendo de forma digna.
Dantas recebeu a notícia com emoção. "A sensação é de superação. Temos sonhos. Temos causa. Somos insistentes. Passamos por uma crise e foi muito difícil, mas em uma decisão coletiva colocamos a meta de sermos os melhores em nosso setor e todos se engajaram. O prêmio é uma validação de que nossos esforços não foram em vão", diz o responsável por trazer cultura empresarial para o artesanato em sua região.
Excelência como resultado da inovação
Barroso explica que o prêmio é realizado a cada três ou quatro anos, sem data pré-determinada. O reconhecimento é dado por região como de países Andinos, da América Central e do Caribe, do Norte da Europa, da Ásia, entre outras. De acordo com o consultor não é um prêmio de design. "Trata-se de reconhecer a excelência na execução do trabalho artesanal", diz.
Para Dantas o reconhecimento da excelência na execução da rede Trancê é também resultado do investimento em inovação. Quando recebeu consultoria para adequação do programa de exportação TexBrasil, da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e da Confecção - ABIT, Armando foi alertado que o trabalho artesanal em seus produtos seria ainda mais valorizado no exterior. "Já fazíamos artesanato, mas a consultoria ampliou nossa visão de mercado", diz. Assim, com o apoio do Sebrae, Armando Dantas manteve o foco no desenvolvimento de produtos alinhados com o setor de decoração investindo em design, para garantir a produtividade, e em marketing, para aumentar a demanda. "O marketing contribuiu para alcançar o mercado comunicando nossa capacidade criativa e produtiva na criação e desenvolvimento de utilitários e produtos artesanais e sustentáveis para decoração", revela.
Desta forma, Armando Dantas, que há 32 anos vendia redes de porta em porta, hoje exporta para a Europa, a América do Norte e África. Ele é um dos responsáveis por São Bento ser conhecida como a "capital internacional das redes" e por manter viva várias técnicas artesanais na região e entorno. Além da fábrica têxtil Santa Luzia Redes e Decoração, a produção artesanal envolve 400 famílias na região do sertão paraibano. Nos acabamentos técnicas como macramê, rendas, crochê, fuxico, patchwork, entre outras feitas exclusivamente à mão.
Seu trabalho propõe resgate das vocações regionais, preservação da cultura local, promoção da agricultura familiar e estímulo ao empreendedorismo -- capacitando os artesãos para o mercado. A excelência na execução, fruto do engajamento dos envolvidos no processo, agora foi reconhecida oficialmente, contribuindo para que seus produtos tenham aceitação no mercado interno e externo.
Premiação foi em João Pessoa - Cidade Criativa da Unesco
No total, 20 artigos artesanais originários dos cinco países foram premiados. Do Brasil, dos quatro produtos premiados, três são da Paraíba. Além de Armando Dantas, da Santa Luzia Redes e Decoração, foram laureados os artesãos Joaquim da Silva Neto (Joca dos Galos) com um galo de folhas de fandres (latas) e Fernando Valentim (Mestre Valentim) com uma garrafa de marchetaria. Outro produto que ganhou reconhecimento foi uma cesto de capim dourado do Jalapão, no Estado de Tocantins.
O prêmio "Reconhecimento de Excelência Artesanal do Cone Sul" foi entregue por Alberto Bertolaza, presidente do Conselho Mundial de Artesanato para a América Latina (2010-2018) -- vindo do Uruguai especialmente para o encerramento da I Feira Internacional de Economia Criativa de João Pessoa, coordenada por Barroso.
Na cerimônia estavam presentes Idrassen Vencatachelum, diretor da Rede Internacional de Desenvolvimento do Artesanato, Maísa Cartaxo, primeira-dama de João Pessoa, e Regina Amorim, gestora de Turismo do Sebrae Paraíba.
"Este reconhecimento significa muito para nós, artesãos. Iniciei a vida como vendedor ambulante, tenho carteira de artesão e muito orgulho dessa história que hoje gera empregos e ajuda no desenvolvimento da Economia Criativa em João Pessoa e na cidade de São Bento, na Paraíba", afirmou Armando Dantas, da Santa Luzia Redes e Decoração, que falou em nome dos premiados
Como sou professor do CEARTE - Centro de Arte da Paraíba, e atualmente leciono as disciplinas direção de arte e figurino, propus apresentar um trabalho diferenciado na Semana de Arte, que acontece anualmente, no final de cada ano letivo, onde costumamos expor nossos trabalhos a cada edição. Lancei uma oficina de moulagem de figurino (sem focar essencialmente em uma determinada área e sim tendo por objetivo despertar no aluno a percepção de como funciona um processo criativo,) que tinha como base trabalhar a modelagem direto no corpo do manequim onde foram utilizados manequins atendendo à proposta tema: mamulengo.
Em cima desta figura da cultura popular - o mamulengo, cada participante da oficina iria desenvolver o vestir do seu "personagem" de uma forma simplificada, contemporânea, portanto minimalistas, pois iríamos estar reduzidos a um tipo de material: o papel, no caso o vegetal e o manteiga; e dando suporte; alfinetes; alfinetes de segurança e cola de silicone. O trabalho foi realizado durante uma tarde, de uma forma bastante dinâmica e produtiva, onde obtivemos resultados surpreendentes. Essa oficina integra o conteúdo do Curso de figurino que será lançado em 2019. O saldo? Uma experiência incrível, não só para mim como para os participantes, na medida em que nos oportunizou observar em que limite podemos trabalhar com materiais que fogem ao convencional, criando efeitos estéticos impactantes. Este é o caminho...
Participantes:
Simone Dussánt
Amanda Araújo
Djanete Figueiredo
Tudo começou a partir de um contato com Sabine Alegria, da empresa Tentation Bio, uma francesa que conheci há uns anos, na Première Vision, em Paris, que me procurou para solicitar minha colaboração para viabilização de um projeto que abarcaria o trabalho de artesãos de quatro países (India, Bangladesh, França e Brasil), que estimulassem uma produção de peças feitas naturalmente com tecidos de fibras naturais e que sejam, também, artesanais. Nesse sentido, João Pessoa foi escolhida para representar o Brasil, usando como referência o algodão colorido e o tingimento natural de fibras naturais. Pensando nisso, articulei com quatro artesãs: Djanete Figueiredo, que trabalha com algodão colorido, entre outras tipologias; Maria que desenvolve seu trabalho com filé e que tem a possibilidade, também, de trabalhar com fios de algodão colorido e tingimentos naturais; Jô do Osso, como é conhecida, que utiliza o osso como matéria prima no desenvolvimento de acessorios e cujo processo já envolve o tingimento natural; e Marlene Leopoldina, uma rendeira que trabalha com renda renascença e que ficou muito estimulada em trabalhar com tingimento natural. Reunidas as artesãs, comecei a me empenhar com elas direcionando o trabalho para surgir produtos que seriam fotografados e enviados para Sabine para serem aprovados. Todos foram aprovados! Decidi ir a São Paulo, para dar continuidade com meu amigo Rogério Ortiz, fotógrafo de moda, onde montamos uma equipe e produzimos esse editorial.
Ficha Técnica:
Moda: Romero Sousa
Fotografia: Rogério Ortiz:
Modelos: Andreza Aguida
Mel Di Melo
Cabelo e Maquiagem: Jay Marques
Agradecimentos: Moda Pap; Kathia Castilho; Carolina Sayama; Paulo Ahads.
O Fest Aruanda, importante festival do audiovisual brasileiro, realizado na cidade de João Pessoa, na Paraíba, celebrou na sua 13ª edição um momento muito especial para a produção local, contando em sua grade de programação com a estreia de 03 longas metragens paraibanos nos quais dois deles realizei a Direção de Arte: Beiço de Estrada (de Eliézer Rolim) e Ambiente Familiar (Torquato Joel); e o Curta Metragem Ultravioleta ( de Dhiones do Congo) onde atuei, também, como Diretor de arte.
Premiações Curta:
Melhor Direção de Arte: Romero Sousa em "Ultravioleta"
Fonte: Jornal da Paraíba.
Beiço de Estrada
Beiço de Estrada, de Eliézer Rolim, fiz a Direção de arte na esfera da cenografia. |
Ambiente Familiar
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Ambiente Familiar, de Torquato Joel, realizei a Direção de Arte no que compreende todas as suas etapas: cenografia, figurino e visagismo. |
Este trabalho foi desenvolvido para as rendeiras de Renda Renascença do Cariri Paraibano e realizado em dois momentos: Programa Sebratec, através da unidade Sebrae Monteiro, e em outro momento, dentro da Associação de Rendeiras de Monteiro por meio da Secretaria Estadual de Economia Solidária. Na primeira oficina, procurei direcionar para a criação de uma coleção onde introduzi algumas técnicas de inovação dentro do processo rendeiro. As técnicas consistiam em desenvolver a renda através da moulage, usando o corpo do manequim ou o bojo do soutien, para criar uma renda com volume, dispensando o uso de penses para promover ajustes às curvas do corpo. Dando sequência a essa trabalho com moulage, aproveitei várias peças que as rendeiras dispunham (sobras e peças que não deram certo ou que foram feitas por alunas das próprias rendeiras), para criar uma nova proposta, unidas por meio de um ponto de renda resultando em novas possibilidades dento do processo criativo. Ainda dentro desse mesmo trabalho, investiguei possibilidades de tingimentos na renda, onde utilizei uma marca conhecida no mercado, que serve para tingir seda promovendo um efeito aquarelado, transparente. O processo de aplicação foi realizado com pinceis e esponjas em locais estratégicos da renda imprimindo um aspecto mais colorido, pulsante. Algumas rendeiras, apropriando-se rapidamente da técnica, conseguiram tingir um vestido inteiro produzindo um efeito estonado. Ao final da primeira fase da consultoria, foi desenvolvida croquis de uma coleção cuja inspiração mangaio, surgiu de uma visita in locu ao mercado público de Monteiro, onde fotografamos diversos elementos, cores e texturas, trabalhados em cima desse tema.
E um segundo momento, fui convidado pela Secretaria da Economia Solidária, através do Sr. Antônio Prado, coordenador da área, com o propósito de realizar outro trabalho com as rendeiras. Nesse sentido, dei continuidade ao processo aplicado na primeira consultoria, para a confecção da coleção. Todo o processo compreendeu em agregarmos o tecido e a malha à renda, causando um aspecto contemporâneo e esportivo, desconstruindo a ideia que se tem de que a renda só pode ser utilizada em situações sociais, por carregar o estigma de sofisticação. No sentido de quebrar esse rotulo tão sedimentado que a renda carrega, trabalhei em cima de tecidos, cambraia e malha de puro algodão; uma característica que deve ser preservada, pois não faz sentido em confeccionar uma renda totalmente em fio de algodão e inserir um produto sintético para compor esse produto tão nobre. Busquei, então, orientar e direcionar essa ideia para as rendeiras absorverem essa proposta de trabalhar em puro algodão, ou tecidos de fibras naturais. Dando continuidade ao processo de tingimento aplicado no primeiro momento da consultoria, resgatando a sabedoria popular, procurei, desta vez, trabalhar com elementos da natureza local como: raízes, folhas, cascas, flores, aplicando a técnica de tingimento natural. Esse trabalho resultou numa belíssima coleção que foi apresentada em um evento em Monteiro .
O novo cinema da Paraíba nasce ousado e criativo
O lançamento de seis longas-metragens de excelente qualidade põe o Estado no radar da produção nacional; filmes foram exibidos no Festival Aruanda do Audiovisual
Luiz Zanin Oricchio, O Estado de S. Paulo
18 Dezembro 2018 | 03h00
JOÃO PESSOA - A grande surpresa do Festival Aruanda do Audioviosual, encerrado na semana passada, não veio da mostra competitiva principal, mas de uma paralela intitulada Sob o Céu Nordestino. Essa seção já existia há alguns anos para abrigar a produção da região Nordeste. Mas a novidade é que, neste 13.º Aruanda, ela foi preenchida integralmente por longas-metragens paraibanos.
Para um Estado que raramente consegue produzir um longa-metragem, e cuja maior tradição encontra-se no cinema documental (Linduarte Noronha e Vladimir Carvalho são as figuras mais notáveis), a atual safra, que mescla documentários e ficção, é de encher os olhos. O crítico e professor da USP Jean-Claude Bernardet, presente no evento, a classificou de “excepcional”. Tanto que propôs um prêmio da crítica especial para esse segmento.
São seis longas, como se disse, mas deveriam ser sete, pois o documentário consagrado ao grande Jackson do Pandeiro, dirigido por Marcus Vilar, não pôde ser apresentado por problemas ainda pendentes com direitos autorais de som e imagem. Além desses filmes, outros sete devem chegar até o próximo ano. Estão na boca do forno.
Os longas paraibanos em cartaz no Fest Aruanda foram Beiço de Estrada, de Eliézer Rolim, Estrangeiro, de Edson Lemos Akatoy, O Seu Amor de Volta (Mesmo que ele não Queira), de Bertrand Lira, Rebento, de André Morais, Sol Alegria, de Tavinho Teixeira, e Ambiente Familiar, de Torquato Joel.
Tal safra não configura, possivelmente, um “movimento”, no sentido clássico do termo, com uma poética estabelecida em cima de regras e posturas preestabelecidas, mas um desses círculos virtuosos ocasionais, beneficiados pela soma de uma política de incentivo inteligente com a presença de talentos individuais.
O boom se deve, de acordo com os cineastas, a um edital da prefeitura de João Pessoa, que leva o nome de Walfredo Rodrigues, um dos pioneiros do cinema paraibano, em parceira com o Fundo Setorial da Ancine.
De acordo com o diretor Marcus Vilar, “houve outro fato marcante: os filmes de curta e média-metragens advindos do curso de cinema da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Alguns redundaram em longas, sendo o mais famoso Estrangeiro, filme que já circulou por mostras de cinco países”, escreveu ele em artigo no jornal Correio da Paraíba(Cinema da Paraíba não para, 9/12/2018).
É inútil procurar por uma unidade temática ou estilística entre esses filmes. Há diversidade muito grande entre as obras, que vão do ambiente regional banhado por uma certa metafísica (Rebento) a um intimismo místico à la Terrence Malick (Estrangeiro), até a ode libertária e dionisíaca de Sol Alegria, passando pelos bastidores de adivinhos e cartomantes em O Seu Amor de Volta. Beiço de Estrada, de Eliézer Rolim, é uma história de abandono contada em tom mais clássico. E Ambiente Familiar, de Torquato Joel, explora o tema das novas configurações familiares em estilo plástico e figurativo, com imagens bastante sensoriais e que lembram, às vezes, as do russo Andrei Tarkovski.
“Não existe algo como uma estética paraibana”, abre o jogo Bertrand Lira, diretor de Seu Amor de Volta, vencedor do Prêmio Especial da Crítica criado para esse segmento. Bertrand defende mais a particularidade de cada obra do que problemáticos pontos comuns que indiquem uma tendência.
Diretor de Rebento, André Morais concorda com Bertrand. “Nossos esforços como grupo foram mais empregados na luta política audiovisual do que discussões estéticas”, diz. “Lutamos pelos editais e depois para que eles de fato acontecessem. Ficamos muito focados nisso.” Por sorte, essa batalha burocrática não contamina seu longa, história de uma mulher que, depois de parir e cometer um ato radical, sai numa busca metafórica por redenção, em busca de seu pai.
Bertrand Lira lembra que há, entre os colegas, estéticas mais rurais, próximas da tradição documental paraibana, e outras mais urbanas. Ele próprio ambienta seu longa no centro histórico de João Pessoa, em ruas do bas-fonds, com seres desesperados frequentando as pequenas salas de quiromantes e videntes. Já Morais, de Rebento, optou pelo campo. “Quis ir para o sertão por causa de uma memória afetiva muito forte, cheia de implicações maternas”, diz. “Mas um sertão não necessariamente paraibano; poderia ser no interior da Amazônia ou de Minas Gerais.”
Edson Lemos, de Estrangeiro, diz que seu filme se distancia da tradição rural paraibana e vai em direção oposta. “É uma ode à praia.” Filmado em preto e branco, seu longa usa a natureza, mar e praia, no caso, como caminho de espiritualidade, reencontro de sua personagem feminina consigo mesma após anos de exílio voluntário.
Esse tônus espiritual parece presente de maneira ainda mais evidente em Ambiente Familiar, de Torquato Joel. Torquato é conhecidíssimo na Paraíba como docente e também como autor de curtas que marcaram época, como Passadouro e Transubstancial.Faz um cinema metafísico, de construção imagética bastante influenciada pela pintura e tendo como horizonte a poesia profunda de Augusto dos Anjos.
Existe portanto esse eixo da espiritualidade, marcante, mas não dominante. Sol Alegria,por exemplo, ocupa-se mais dos corpos que do espírito. Busca, na carnalidade, uma forma de transgressão e liberação, com cunho político e contestador.
Num ponto, os diretores são unânimes: “Manter essa diversidade é muito mais importante que encontrar pontos comuns em nossas obras”, diz Eliézer.
Após o boom do cinema pernambucano, com o grupo Árido Movie e que teve seguimento em diretores como Kleber Mendonça Filho (de O Som ao Redor e Aquarius),depois do cinema mineiro com cineastas como André Novais, Affonso Uchôa e outros, depois do coletivo cearense Alumbramento, talvez tenha chegado a hora de o cinema paraibano despontar no panorama nacional. Por enquanto, há que se comemorar esse momento especial. Em seguida, será preciso estudá-lo, pois sua importância já extrapola as fronteiras do Estado da Paraíba.